No último
artigo, destaquei alguns aspectos do modal ferroviário brasileiro e mencionei
pontos que mostram as justificativas que levam à necessidade da revisão do
funcionamento do mesmo. Foi também mencionada a importância das ferrovias como
variável para a competitividade brasileira.
Cabe aqui
uma referência à matéria da revista Exame desta quinzena, onde são aprofundados
pontos e comparações que vão ao encontro do que foi explorado no artigo
anterior. Isto confirma que o tema está na agenda do dia.
Iniciado
na década de 90, o processo de concessões no setor de ferrovias seguiu o modelo
chamado Vertical. Este modelo tem a característica de conceder a iniciativa
privada tanto à construção e manutenção das vias, como também a operação do
chamado material rodante (locomotivas e vagões). Resumindo e simplificando, a concessão
dava ao concessionário a obrigação e os direitos de construir e manter as vias,
além da operação exclusiva das cargas.
Este
modelo, Vertical, teve seu papel e foi responsável pelos avanços destacados no
artigo anterior; no entanto, acabou gerando algumas dificuldades, por exemplo:
a concentração no litoral das vias, monopólio da infraestrutura e dos serviços,
ausência de competição intramodal devido à concentração em determinados setores
e exclusividade das cargas entre outros pontos.
O grande
desafio de um novo modelo é impulsionar o transporte ferroviário a partir da
expansão da malha e universalização do uso.
O novo
modelo proposto quebra em duas partes o processo de exploração. Ele se torna um
modelo horizontal e não mais vertical, como usado anteriormente. Você terá dois
tipos de agentes, a saber: o concessionário da infraestrutura (comercialização
do uso da infraestrutura), onde o concessionário é responsável pela construção
e manutenção das vias; e os operadores de carga (comercialização do
transporte).
Este
modelo parte da premissa da separação entre o responsável pelas vias (que
disponibiliza os espaços de transporte na sua estrutura); dos operadores (que movimentam
a carga na via). Há um grande objetivo neste modelo: o de criar condições para
que tenhamos vários operadores de cargas e passageiros.
Podemos
fazer a analogia com o modal rodoviário, onde você tem a concessionária da
exploração e manutenção das vias (rodovias) e as operadoras que exploram o
transporte (por exemplo, as empresas de ônibus). Na teoria é um modelo
interessante, gera estímulos e condições para o aumento da concorrência de
transporte de cargas, visto que o concessionário de infraestrutura terá
interesse de disponibilizar seus espaços de transporte ao máximo de clientes
possíveis (operadores de cargas). Por outro lado, este modelo exige uma regulação
complexa.
O agente
público neste formato (horizontal) tem um papel importante: o de regular a
alocação de capacidade de transporte (disponibilizada pelos concessionários das
vias), para os operadores de cargas, levando em consideração as necessidades
econômicas do país e também evitando a monopolização da capacidade disponível. Isto
é conhecido internacionalmente como Open
Access. O país mais avançado nesse sistema é
a Alemanha onde éutilizado na operação interna ao país e na operação interna à
Europa.
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