Nesta terça-feira, 25, participo do painel “A
Melhoria da Gestão nas Agências Reguladoras”, que compõe as atividades
comemorativas aos 15 anos da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).Neste debate participarão representantes da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), Ministério do Planejamento e da própria ANVISA. Portanto,
pretendo compartilhar aspectos relevantes deste tema que explorarei no evento.
As agências reguladoras foram criadas na
década de 90, início de 2000, com o objetivo de fiscalizar a prestação de
serviços públicos praticados pela iniciativa privada.Elas surgem a partir do
processo de privatização que ocorreu à época, para instrumentalizar o Estado na
fiscalização e controle de qualidade da prestação de serviços, estabelecendo
regras para os setores regulados.
Na esteira deste movimento, destaco as 10
principais agências: Águas (ANA), Aviação Civil (ANAC), Telecomunicações
(ANATEL), Cinema (ANCINE), Energia Elétrica (ANEEL), Petroleo (ANP), Saúde
Suplementar (ANS), Transportes Aquaviários (ANTAQ), Transportes Terrestres
(ANTT) e a própria ANVISA.
Em 2003, foi criada uma comissão
interministerial que analisou e avaliou o papel das agências, na perspectiva
dos novos desafios colocados, a época, para a economia brasileira.
A partir desta análise e com base em
experiências internacionais ficou evidente que a regulação, através de
mecanismos centrais, é uma forma contemporânea de ação do Estado. Tal regulação
pode ser econômica, social ou administrativa. O que a realidade demostra,
atualmente, é a atuação das agências como uma combinação destes três vetores.
De um lado, as agências devem propiciar a
estrutura institucional para os agentes econômicos (empresas e mercados), com o
propósito de facilitar, limitar ou intensificar os fluxos e trocas de mercados;
além de garantir os princípios de
confiabilidade e regras de entrada e saída do mercado. Outra função das
agências é o controle na provisão dos bens públicos e na proteção do interesse
público a partir da definição de níveis de qualidade de serviços, segurança e
acesso.
Por fim, a regulação administrativa refere-se
a intervenção nos procedimentos administrativos e burocráticos, adotados pelo
Poder Público em sua relação com os setores administrados.
Portanto, já é possível perceber a
importância das Agências como órgãos de Estado e a necessidade de que sejam
instâncias profissionais e modernas, pois elas têm um poder enorme de
intervenção nas relações sociais e de mercado.
Neste sentido, a preocupação com a eficiência
em gestão é fundamental para as agências com o intuito de ter a velocidade e a
segurança nas decisões tomadas.
Por exemplo, na dimensão econômica, o
objetivo é a busca constante da maximização da eficiência em mercados
caracterizados pela concentração de poder econômico e naqueles onde as
barreiras à entrada são significativas. Neste ponto destaco o papel das
Agências de Telecomunicações e a própria ANVISA na área de medicamentos.
O aspecto de regulação econômica surgiu há
mais de um século nos países desenvolvidos, devido à concentração industrial
observada naquela época.
Em qualquer que seja a motivação para a
regulação, a experiência tem mostrado que há três elementos basilares para o
bom desempenho institucional das agências: harmonia entre as instituições
regulatórias e os ambientes político, administrativo, social e econômico;
independência operacional e transparência (sujeição à prestação de contas).
Aqui vale abrir um parêntesis- seguidamente
verificamos nas notícias políticas sobre o conflito entre executivo e
legislativo nas nomeações para as agências. O processo de busca de aprovação no
Senado aos nomes dos dirigentes das agências é um ponto positivo, desde que não
se torne moeda de troca política. Hoje no Brasil temos situações em que
Agências estão sem dirigentes nomeados devido a este conflito entre poderes e a
ingerência nas indicações, onde o aspecto competência profissional tem ficado
em segundo plano.
Vou dar um exemplo da necessidade de
profissionalização das Agências. Atualmente um dos maiores problemas do país é
a logística. Estamos num processo crescente de concessões de rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos, que é fundamental para ganharmos velocidade no
enfrentamento deste gargalo de competitividade. Todo os processo de modelagens
destas concessões é papel das respectivas agências (ANTT, ANTAQ e ANAC). Essa
atividade engloba toda a relação publica e privada que será necessária,
jurídica e econômica. Quando falamos em concessões, estamos falando em processos
de 20, 30 ou até 50 anos, onde a regulação econômica e social deverá ser
consistente e transparente para garantir os bons serviços públicos dentro de um
equilíbrio econômico para os investidores. Portanto, termos agências
profissionais e eficientes é fundamental para o sucesso dos programas de
concessões.
Um ponto fundamental para o bom funcionamento
da regulação e das agências regulatórias refere-se à importância das área e
seus atores se reconhecerem como sistema. Por exemplo, A ANTT (Agência Nacional
de Transportes Terrestres) é a responsável pela regulação no processo de
logística citado anteriormente. Além da ANTT, na área de ferrovias e rodovias
temos outros atores: DNIT (Dpto Nacional de Infraestrutura em Transportes),
VALEC (empresa estatal responsável pelas ferrovias), EPL (Empresa de
Planejamento e Logística em Transportes) e o Ministério dos Transportes. É
fundamental a coordenação entre estes entes para o melhor resultado. No
entanto, o que temos verificado é a necessidade, ainda, de um longo caminho a
percorrer.
As partes seguem operando independentemente,
as próprias agências definem os termos pelos quais entendam que devam ser
supervisionadas e os ministérios responsáveis não conseguem interagir
adequadamente com as autarquias, estatais e agências.
Isto pode ser verificado no exemplo dos
transportes, mas também na saúde (ministério da saúde, ANVISA e ANS), na
aviação civil etc.
No caso do painel que participarei, a
preocupação com estes temas no que diz respeito a Anvisa é fundamental. Esta
agência supervisiona, regula, fiscaliza e autoriza produtos e serviços em áreas
e setores que representam 27% do produto interno bruto do país. Trazendo em
números, a Anvisa regula um universo de R$ 1,5 trilhão entre medicamentos,
insumos, alimentos, produtos de saúde, equipamentos, cosméticos, serviços etc.
Neste exemplo fica evidente o impacto que uma
agência pode ter tanto no aspecto econômico (fiscalização de plantas
industriais, por exemplo) quanto no aspecto social (autorização de entrada de
um novo medicamento no mercado ou a retirada deste). Portanto, o fortalecimento
das agências deve sempre tratar deste binômio econômico e social, que é um
equilíbrio tênue, porém, fundamental para o desenvolvimento do país.
Por fim, gostaria de agradecer às
contribuições que recebi a partir do artigo “Do Big Mac ao IPhone”, pretendo
responder a todos. Um abraço e até a próxima semana!
Dúvidas, opiniões e sugestões podem ser feitas
através do email clgastal@gmail.com
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