Um ponto que sempre me inquietou no meu cotidiano profissional foi a necessidade, nem sempre com êxito, de buscar exemplos, explicações e textos que tornassem mais palatáveis questões, muitas vezes áridas, sobre gestão, competitividade e produtividade. A capacidade de transformar assuntos de certa complexidade em uma narrativa simples e de fácil compreensão é uma caminhada que exige, a meu ver, muita dedicação e domínio dos temas que se pretende abordar. É esta intenção - a de fazer esta caminhada.
Pretendo, com esta série de artigos que serão publicados neste espaço, aprender, compartilhando com o leitor o conhecimento, as inquietações e as dúvidas que estão presentes na atuação cotidiana e profissional. Portanto, caro leitor, faço este convite, a enfrentar comigo o desafio de transformar temas relativamente complexos em algo que possa ser compreendido de maneira cotidiana, sem a necessidade de lançar mão de conhecimento técnico especializado.
Hoje, temas como competitividade sistêmica, produtividade, inovação, gestão, marcos regulatórios, entre outros, são encarados como algo de especialistas e são muitas vezes considerados temas que não dizem respeito ao dia a dia do cidadão. Ledo engano! Num país como o Brasil, onde 40% do PIB (produto interno bruto) é de responsabilidade do setor público e os outros 60% estão no setor privado, o impacto das decisões referentes ao universo da área pública, como reformas, marcos regulatórios, decisões macro e micro econômicas, reestruturações gerenciais, afetam diretamente o cotidiano de cada um de nós. Portanto, compreender como estas decisões acontecem, como elas são desdobradas, como afetam o ambiente de negócios, como afetam o dia a dia de Estados, municípios e, por fim, do cidadão, é não só importante, como também fundamental para construímos um maior capital social!
Neste sentido, o que pretendo, escrevendo neste espaço, é auxiliar (um pouquinho que seja) na construção do conhecimento necessário para uma reflexão autônoma de cada leitor. Aprendi, desde cedo, que a melhor forma de desenvolver o conhecimento é compartilhar o conhecimento! Este deve ser o objetivo de cada um que está preocupado com o futuro. Então vamos lá!
O título deste artigo, pode soar estranho ou mesmo, para os mais céticos, uma apologia ao consumo. Não é este o objetivo! As duas marcas, ou os dois produtos citados, têm o objetivo de auxiliar-nos na reflexão de um tema que constantemente está na pauta - o chamado Custo Brasil. Nada melhor para compreender um tema, do que usar exemplos e realidades que estão presentes no nosso dia a dia. Mesmo sabendo que alguns leitores poderão reagir, questionando que os dois produtos em questão, estão longe de ser algo massificado, aceito o risco de utilizá-los como exemplos.
Outro ponto que pretendo lançar mão para auxiliar nesta análise é o processo de comparação. Ou, como chamamos na gestão, Benchmarking! Isto nada mais é do que o processo de comparar determinado resultado, desempenho ou, neste caso, preço, com outros atores, empresas e aqui neste texto, com outros países.
A revista The Economist da última quinzena traz uma matéria muito interessante que trata da análise e comparação dos preço para aquisição de um IPhone, entre alguns países da América Latina. Esta mesma revista, realiza desde o ano de 1986 uma análise dos preços do Big Mac entre 48 países. Em ambos os casos ela faz a homogeneização dos dados através da chamada paridade do poder de compra (PPP). Que é a técnica utilizada que permita você comparar preços/valores, minimizando as diferenças de câmbio, pib, renda etc. Nestes dois casos, do Big Mac como do IPhone, é fácil constatar que alguma coisa não está andando bem com o nosso País.
Quando analisamos o exemplo do IPhone, verificamos que o preço deste produto no Brasil é o mais alto, a um valor pesquisado de U$ 1.080, enquanto na Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela, os valores são respectivamente U$ 710, U$ 842, U$ 750, U$ 798, U$ 1,039 e U$ 775. Importante destacar que tanto na Argentina como na Venezuela o valor utilizou como referência um valor de câmbio paralelo, devido a pouca confiabilidade dos dados oficiais. No caso do chamado índice Big Mac, a última análise realizada em janeiro de 2014 mostrou que o valor no Brasil, equalizado pela PPP, está abaixo apenas de 4 países, a saber: Noruega, Venezuela, Suécia e Suíça. O preço no Brasil gira ao redor de U$5, enquanto na Rússia, China, México e Austrália os valores são respectivamente U$2.6, U$2.7, U$2.78 e U$4.4. O que podemos concluir com estas duas comparações? Na minha opinião mostra que estamos com uma disfunção no nosso País.
Nossa economia é bem maior que vários países utilizados na comparação, as nossas instituições estão mais consolidadas também, e por fim, tivemos um aumento de poder de compra, pela inclusão de mais pessoas no mercado de consumo. O que há então? Basicamente é aquilo que cansamos de verificar em manchetes de jornais e revistas! O Brasil ainda não encaminhou as reformas necessárias para podermos sairmos desta disfunção. O ambiente de fazer negócios no Brasil é caro e complexo; o custo da mão de obra (aqui é o valor total, salários encargos etc); não o custo final do valor que o colaborador leva para casa, que continua baixo. Por exemplo, no Brasil o empregado leva para casa 40% ao redor do custo total, enquanto em países como o Chile este valor chega a 80%.A produtividade e, principalmente, o manancial tributário que estamos inseridos são outros exemplos. Na questão tributária, somente o custo de transação, que não é o custo efetivo dos impostos, mas o custo de realizar os procedimentos de recolhimento, pagamento, registros etc, chega ao redor de 10% a 12% do PIB. Na logística temos um custo de 15% do PIB enquanto nos Estados Unidos é de 8%. Essas e outras tantas somas de não competitividade é o que geram as diferenças de valores citados nas comparações.
Avançamos muito nos últimos anos com estabilidade econômica, inclusão social, investimentos em infraestrutura, porém temos uma grande caminhada pela frente. Não há alternativa, temos que continuar a pressionar, cobrar, exigir e principalmente nos mantermos informados em busca da visão crítica dos impactos que as ações geram no nosso dia a dia. Concluindo, é para esta caminhada e para este objetivo que lhe convido. Portanto, da próxima vez que você for saborear um “Xis Tudo com Tudo” ou seu filho ou filha lhe pedir um celular de última geração, lembre-se que você estará pagando um valor mais alto que deveria, devido às nossas próprias barreiras. Barreiras, temas e assuntos que pretendo compartilhar e debater neste espaço.